“Os princípios da física, pelo que eu posso perceber,
não falam contra a possibilidade de manipular as coisas átomo por átomo. Não
seria uma violação da lei; é algo que, teoricamente, pode ser feito, mas que na
prática nunca foi levado a cabo porque somos grandes demais” (Richard Feynman).
A nanotecnologia é a capacidade potencial de criar
coisas a partir do menor, usando as técnicas e ferramentas que estão a ser
desenvolvidas nos dias de hoje para colocar cada átomo e cada molécula no lugar
desejado. Se conseguirmos este sistema de engenharia molecular, o resultado
será uma nova revolução industrial. Além disso, teria também importantes
consequências econômicas, sociais, ambientais e militares.
Quando Eric Drexler popularizou a palavra “nanotecnologia”,
nos anos 80, referia-se à construção de máquinas à escala molecular, de apenas
uns nanômetros de tamanho: motores, braços de robô, inclusive computadores
inteiros, muito mais pequenos do que uma célula. Drexler passou os seguintes
dez anos a descrever e analisar esses incríveis aparelhos e a dar resposta às
acusações de ficção científica. No entanto, a tecnologia convencional estava desenvolvendo
a capacidade de criar estruturas simples à escala reduzida. Conforme a
nanotecnologia se converteu num conceito aceite, o significado da palavra mudou
para abranger os tipos mais simples de tecnologia à escala nanométrica. A
Iniciativa Nacional de Nanotecnologia dos Estados Unidos foi criada para
financiar esse tipo de nanotecnologia: a sua definição inclui qualquer elemento
inferior a 100 nanômetros com propriedades novas.
Fala-se com frequência da nanotecnologia como uma “tecnologia
de objetivos gerais”. Isso se deve ao fato de que na sua fase madura terá um
impacto significativo na maioria de indústrias e áreas da sociedade. Melhorará
os sistemas de construção e possibilitará a fabricação de produtos mais
duráveis, limpos, seguros e inteligentes, tanto para a casa, como para as
comunicações, os transportes, a agricultura e a indústria em geral.
Imagine dispositivos médicos com capacidade para
circular na corrente sanguínea e detectar e reparar células cancerígenas antes que
se estendam. Imagine o que seria “encolher” todo o conteúdo da Biblioteca
Nacional num dispositivo do tamanho de um cubo de açúcar. Ou, então,
desenvolver materiais dez vezes mais resistentes que o aço e com apenas uma fração
do peso.
Tal como já aconteceu com a eletricidade ou os
computadores, a nanotecnologia melhorará em grande medida quase todas as
facetas da vida diária. Como tecnologia de objetivos gerais, porém, teria um
uso duplo, ou seja, teria múltiplas aplicações comerciais e também militares:
seria possível produzir, por exemplo, armas e aparelhos de vigilância muito
mais potentes. A nanotecnologia representa, portanto, incríveis vantagens para
a humanidade, mas também graves riscos.
A base da nanotecnologia é o fato de que não só
oferece produtos aperfeiçoados como também uma ampla variedade de melhores
meios de produção. Um computador pode fazer cópias de ficheiros de dados;
basicamente tantas cópias como quisermos a um custo muito reduzido ou mesmo
inexistente. Pode ser apenas uma questão de tempo até que a fabricação de
produtos se torne tão barata como a cópia de ficheiros. Aqui reside a
verdadeira importância da nanotecnologia, por isso é vista às vezes como “a
próxima revolução industrial”.
[...]
Seria possível condensar o poder da nanotecnologia num
aparelho, na aparência simples, chamado nanofábrica, cheio de minúsculos
processadores químicos, computadores e robôs e que poderia ir colocado no seu
computador pessoal. Os produtos seriam fabricados diretamente a partir dos
projetos e, portanto, tratar-se-ia de um processo rápido, limpo e barato.
A nanotecnologia não só permitiria a fabricação de
produtos de alta qualidade a um custo muito reduzido como também a criação de
novas nanofábricas com o mesmo custo e velocidade. É mesmo por essa capacidade
única de autorreprodução (para além da biologia, evidentemente) pelo que a
nanotecnologia se denomina “tecnologia exponencial”. Refere-se a um sistema de
fabricação que, por sua vez, seria capaz de produzir mais sistemas de
fabricação-fábricas - que produzem outras fábricas - de maneira rápida, barata
e limpa. Os meios de produção poder-se-iam reproduzir exponencialmente.
Portanto, em apenas umas semanas, poderíamos passar de um reduzido número de
nanofábricas para vários bilhões. Constitui, então, um tipo de tecnologia
revolucionário, transformador, potente mas também com muitos riscos ou
vantagens potenciais.
Quanto tempo demorará a ser uma realidade? Os
analistas mais prudentes falam num período de vinte ou trinta anos a partir de
agora, ou ainda mais tarde. No entanto, provavelmente, durante a próxima
década. Isto é devido ao rápido avanço das novas tecnologias como, por exemplo,
no campo da óptica, nanolitografía, mecânoquímica e criação de protótipos em 3D.
Caso chegar tão rápido, talvez não estejamos prontos e poderia ter graves
consequências.
Julgamos que não é cedo demais para começar a colocar
uma série de questões e abordar os seguintes temas:
- A quem pertencerá a tecnologia?
- Estará altamente restringida, ou amplamente
disponível?
- Como afetará ao fosso entre ricos e pobres?
- Cemo poderão ser controladas as armas perigosas e
prevenir corridas armamentistas?
Muitas destas questões já foram colocadas há mais de
uma década e ainda não receberam resposta. Caso não abordarmos essas questões
de maneira deliberada, as respostas chegarão sozinhas e podem apanhar-nos de
surpresa; e a surpresa provavelmente não seja agradável.
É difícil antecipar com certeza quanto tempo tardará
esta tecnologia em madurar, em parte porque poderia acontecer que já estejam a
ser desenvolvidos desde há anos programas industriais ou militares clandestinos
sem o nosso conhecimento (especialmente em países que não têm sociedades
abertas).
Não podemos garantir que a nanotecnologia não será
desenvolvida plenamente nos próximos dez anos ou inclusive cinco anos. Embora possa
levar mais tempo, a prudência e a nossa sobrevivência exige que pensemos no
cenário mais antecipado e que, portanto, nos preparemos já.
Fonte: http://www.euroresidentes.com/futuro/nanotecnologia.