sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ideologia - 2º EM.



As propagandas que aparecem na TV, nos jornais e nas revistas
mostram imagens bonitas com a intenção de cativar o telespectador.
Elas podem ser da seguinte forma: a imagem representa uma paisagem
bonita, que pode ser uma praia, estrada de terra, deserto, cidade – e
o automóvel é dirigido por pessoas sorridentes e felizes, vivendo situações
surpreendentes. Ou ainda em um ambiente animado, cheio de
jovens, sorridentes, dançando, todos com um celular sofisticado com
novas funções. E assim elas encantam as pessoas, pois as propagandas
têm a tarefa de cativar para vender o produto e estimular um comportamento
que é característico da sociedade capitalista: o consumismo.
Esse comportamento aparece como máximo que todos – jovens, adultos,
idosos, crianças e adolescentes devem seguir ao criar necessidades
que estão além daquelas que são básicas – comer, ter acesso à água potável,
moradia segura, educação, lazer, saúde e transporte.
Assim, as propagandas, os programas televisivos, os filmes e as novelas
passam a idéia de que com a posse de objetos – celulares, tênis,
roupas, mochilas, bonés, chaveiros, cosméticos, acessórios, eletrodomésticos
– todos terão uma satisfação imediata e universal. Como
se o fato de consumir fosse suficiente para garantia de uma vida plena
e feliz.

A ideologia e a dominação capitalista.

O pensador alemão Karl Marx (1818-1883) afirmou que a ideologia
dominante será aquela advinda da classe que domina a sociedade,
ela representará, então, as idéias, a forma de pensar e explicar o
mundo provenientes desta mesma classe. Essas afirmações encontramos
na obra A Ideologia Alemã escrita em 1845-1846, “As idéias (...) da
classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes; isto é, a
classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo
tempo, sua força espiritual dominante” (MARX, 1996: 72). E essas idéias possuem
a característica de aparecerem para todos como universais e racionais
“(...) cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes
dela é obrigada, para alcançar os fins a que se propõe, a apresentar
seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros
da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais: é
obrigada a emprestar às suas idéias a forma de universalidade, a apresentá-
las como sendo as únicas racionais, as únicas universalmente válidas”
(MARX, 1996: 74).

Para Marx, na sociedade capitalista a produção de objetos é a atividade
essencial, pois é com ela que a divisão em classes e a exploração
do trabalho ocorrem. Essa divisão impulsiona a classe dominante
em manter o controle sobre o conjunto da sociedade. Na análise que
Marx realiza sobre o capitalismo, que encontramos na obra O Capital,
de 1867, há uma crítica à forma como essas relações entre patrões e
empregados vão ocorrendo na sociedade.

Quando compramos alguma coisa não nos importamos em saber
em quais condições de trabalho e com qual salário aquele objeto foi
produzido. Por exemplo, se você está com frio e tem que comprar uma
blusa, vai se preocupar com a utilidade que ela terá para você. Não
se preocupará com as condições de trabalho dos operários da indústria
têxtil.

A propaganda irá atuar sobre você e o consumo ocorrerá via esta
ação misteriosa e mágica que revela somente a utilidade do produto.

Isso ocorre com qualquer objeto produzido no capitalismo, pois todos
eles podem ser igualados. Veja: se as horas gastas para produzir a
sua blusa forem igualadas às horas para produzir um CD, eles vão ter o
mesmo preço. É por isto que muitas vezes um CD custa o mesmo que
uma lata de ervilha. Quanto menos tempo leva, dentro da jornada, para
produzir um objeto, mais lucro tem o capitalista, que com uma determinada
produção paga os gastos que tem com o trabalhador. Essa
igualdade de horas trabalhadas vai equiparar as mercadorias e na hora
do consumo só vai importar o preço das coisas. Este é o caráter mágico
cheio de “argúcias teológicas”.



“A primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente
compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheio de
sutilezas metafísicas e argúcias teológicas. Como valor de uso, nada há de
misterioso nela, quer a observemos sob o aspecto que se destina a satisfazer
necessidades humanas, com suas propriedades, quer sob o ângulo de que
só adquire essas propriedades em conseqüência do trabalho humano. É evidente
que o ser humano, por sua atividade, modifica do modo que lhe é utíl
a forma dos elementos naturais. (...) A mercadoria é misteriosa simplesmente
por encobrir as caracterísiticas sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-
as como característica materiais e propriedades sociais inerentes
aos produtos do trabalho”. (MARX, K., 1994: 82).


Nesta obra, O Capital, Marx, demonstra o Valor de todo e qualquer
objeto que no capitalismo possui a forma de Mercadoria. Estes objetos
vão possuir uma utilidade, que está localizada no consumo, e algo
mais que está localizado na hora que a blusa, no caso do exemplo, for
produzida. Analisar e desvendar o processo produtivo e a organização
da sociedade foi a sua intenção.

Ao consumirmos somos influenciados pela necessidade e utilidade
– básica ou supérflua – que temos de possuir determinado objeto. Em
geral, não nos preocupamos em compreender o que ocorre com a realidade
do trabalhador e seu modo de vida. Assim, o valor de uso, a
utilidade possui uma força ao despertar a nossa atenção para o consumo.

Então a Mercadoria possui um VALOR DE USO que é a utilidade do
produto, o que nos leva a consumi-lo para suprir essa necessidade.

Já o que Marx chamou de VALOR é o processo de fabricação deste
objeto (no caso do exemplo, a blusa), que tem um lugar determinado,
na fábrica, quando durante a jornada de trabalho, ocorre o processo
de exploração do trabalho no capitalismo. Vejamos, no exemplo
a seguir:

Quando um(a) trabalhador(a) é contratado por uma determinada
jornada de trabalho de 8 horas diárias, estamos considerando, que
dentro desta jornada, existem três momentos:
1. Uma primeira parcela em que com duas horas de atividade em que
este trabalhador(a) executou a sua função, ele paga o seu salário.
2. Uma outra parcela, de duas horas em que a sua atividade paga os
custos da produção – matérias-prima, impostos, transporte do produto,
a compra de novas máquinas.
3. Uma terceira parcela de quatro horas em que este trabalhador continua
produzindo e estes produtos são o lucro ou um valor a mais
MAIS-VALIA – que o proprietário da fábrica vai se apropriar.

Esse processo configura o que Marx chamou de essência da sociedade,
quando ocorre a produção de objetos, pois é neste momento
que o trabalhador vai reproduzindo a sociedade ao aceitar as disposições
legais do seu contrato de trabalho e se submete à jornada nele estipulada.
Em outros momentos também ocorrem determinações sobre
os indivíduos quando vão estabelecendo uma ação de conformidade
frente à “dureza” que é o cotidiano da busca do emprego, de pagar as
contas, de ser atendido pelo médico, de poder ir ao cinema, enfim, resolver
as necessidades materiais – ter acesso à comida, à água potável, a
um abrigo seguro, ao conhecimento, e as necessidades subjetivas - sentimentos,
desejos, questionamentos, aspirações.

Mais-valia: São as horas
dentro da jornada de
trabalho – a de 8 horas do
exemplo acima – em que a
produção executada se reverte
para o capitalista na forma
de lucro. Ela pode ser relativa
– quando estas horas
aumentam de acordo com o
desenvolvimento do processo
de automação; e pode ser
absoluta: quando as horas
de trabalho excedem a jornada.

E na hora em que vive este cotidiano, ele vai sendo sugado pela
necessidade de garantir que as metas estabelecidas, no emprego sejam
cumpridas: prazos, cotas, produtividade que estão na fábrica, na loja,
no banco, na gráfica, no trabalho do cobrador e do motorista de ônibus.
No campo a realidade não é diferente, há a exigência de melhor
rentabilidade na colheita de tantos alqueires no dia, nas exigências de
colher tantas toneladas de cana no dia, enfim. Prazos são estabelecidos
e para garanti-los nós não pensamos muito, vamos fazendo, executando
e obedecendo, sem questionar.

A ideologia e a normatização do cotidiano.

Continuando a análise sobre a relação da ideologia com o cotidiano,
e considerando a reprodução e manutenção da sociedade como
um processo social, apresentamos o pensamento da filósofa Marilena
Chauí sobre esta questão:

“Como sabemos, a ideologia não é apenas a representação imaginária
do real para servir ao exercício da dominação em uma sociedade fundada
na luta de classes, como não é apenas a inversão imaginária do processo
histórico na qual as idéias ocupariam o lugar dos agentes históricos reais.
A ideologia, forma específica do imaginário social moderno, é a maneira necessária
pela qual os agentes sociais representam para si mesmos o aparecer
social, econômico e político, de tal sorte que essa aparência (que não
devemos simplesmente tomar como sinônimo de ilusão ou falsidade), por
ser o modo imediato e abstrato de manifestação do processo histórico, é
o ocultamento ou a dissimulação do real. Fundamentalmente, a ideologia é
um corpo sistemático de representações e de normas que nos “ensina” a
conhecer e a agir”. (CHAUÍ, 1997: 3-4).

Portanto, as nossas escolhas estão ligadas à ideologia que de acordo
com os interesses daqueles que dominam a sociedade, vai organizando
o mundo à nossa volta.

Ao observar cenas na televisão que mostram as pessoas andando
na rua indo para o trabalho em ônibus lotados, em caminhões precários,
as filas e os grupos que se formam à volta de uma oferta de emprego
ou de vagas na colheita de algum produto, você já parou para
pensar porque isto ocorre? O que faz com que as pessoas todos os
dias, realizem esta busca cotidiana, incessantemente? Por que as pessoas
vão repetindo estas ações cotidianas? Há um conformismo nesta repetição?
O que pensar sobre isto nos indica?

Voltando ao ponto de partida do conceito vamos observar que ao
reafirmarmos a necessidade de fazermos “aquilo que se espera de nós”
vamos reproduzindo a sociedade. Esta reprodução está justamente no
que foi descrito acima quando as pessoas aceitam a situação sem questioná-
la. Mas, a responsabilidade deste conformismo não está nas pessoas
isoladamente, nos indivíduos. Está nas idéias contidas na ideologia,
que ao serem disseminadas na sociedade vão garantindo que a
aceitemos nos moldes em que ela está organizada. Fazemos isto porque
recebemos um conjunto de informações que vão atuar sobre a
nossa forma de pensar sobre o mundo, as pessoas e as coisas. Faça a
tarefa a seguir e analise sobre o papel da ideologia e a ação dos seres
humanos.

Marilena Chauí escreveu sobre a força da ideologia sobre as pessoas,
tendo em vista a pressão que ela exerce sobre o cotidiano:

“A sistematicidade e a coerência ideológicas nascem de uma determinação
muito precisa: o discurso ideológico é aquele que pretende coincidir
com as coisas, anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, destarte,
engendrar uma lógica da identificação que unifique pensamento, linguagem
e realidade para, através dessa lógica, obter a identificação de todos os sujeitos
sociais com uma imagem particular universalizada, isto é, a imagem
da classe dominante. Universalizando o particular pelo apagamento das diferenças
e contradições, a ideologia ganha coerência e força porque é um
discurso lacunar que não pode ser preenchido. Em outras palavras, a coerência
ideológica não é obtida malgrado as lacunas, mas, pelo contrário,
graças a elas. Porque jamais poderá dizer tudo até o fim, a ideologia é aquele
discurso no qual os termos ausentes garantem a suposta veracidade daquilo
que está explicitamente afirmado”. (CHAUÍ, 1997: 3-4).

Essas idéias universalizantes são dúbias e passam a concepção,
por exemplo, de que todos estão em condições iguais de competir,
o que é garantido pela Constituição Federal de 1988, mas ao mesmo
tempo demonstra que entre estes existem os mais “capazes” que vão
ter acesso ao emprego, a vaga na universidade, a ser campeão na gincana
da escola. Esse pensamento, ao dar primazia ao vencedor, cria
um preconceito, pois desconsidera aqueles que ficaram em segundo
lugar, em terceiro, em quarto, em último como se essas pessoas não
merecessem respeito. Não percebemos esta dubiedade quando incentivamos
e assistimos às competições entre as pessoas, entendendo
que o resultado que elas apresentam é a verdade absoluta.

E esta verdade passa a ser uma idéia universal de que os primeiros
são os mais capazes, o que incentiva um comportamento competitivo
entre as pessoas. Ao fazer isso, a ideologia cria uma ação preconceituosa
e individualista, pois muitos acham que é correto ser
assim, pois “eu fui o melhor”. Nada mais ilusório, já que há desigualdades
materiais (de classe) e de outros tipos também, como as de
gênero e etnia, que estão fora das “escolhas” dos indivíduos, e que
acabam tornando desiguais também, as oportunidades sociais das
pessoas.

O individualismo é uma ideologia que surge com o pensamento
liberal do século XVII, que tem John Locke como principal representante.
Essa concepção, naquela época, guindava o ser humano a uma
esfera de atuação que lhe era negada na Sociedade Feudal (século V
a XV), com a dominação da nobreza. Com a ascensão da burguesia
(século XVIII) e o seu controle do Estado e a disseminação e normatização
das suas idéias na sociedade, a concepção de Indivíduo como
aquele capaz de agir, deixa de ser inovadora passa a cristalizar no nosso
cotidiano, via os meios de comunicação, a idéia de que o melhor,
é o mais capaz e é aquele que deve ter acesso aos bens e serviços da
sociedade. Isso significa desenvolver um individualismo, que nos séculos
que se seguiram (XVIII ao XXI) aumentou com o consumo, pois
somente alguns podem consumir mais que os outros.

Muitas pessoas acham que isto está correto pois foi ele quem venceu
– a disputa pelo emprego, pela promoção, pela vaga na faculdade.
Vencer em uma sociedade de desiguais significa reprodução da sociedade,
pois se alguém venceu outros ficaram de fora. E se ficaram de
fora, permanece a desigualdade. Questionar essa realidade é importante
para percebermos como veremos adiante, neste texto, a quebra dos
padrões individualistas e conformistas vigentes.

Primeiro precisamos entender o processo de internalização que impulsiona
a ação cotidiana de ir ao trabalho, à escola, ao médico, aos
compromissos sociais, para depois entendermos o processo de rompimento
com a ideologia.

O processo de internalização e a condição humana.

Sabemos que se faltarmos na escola, no trabalho, na consulta médica
vamos sofrer uma punição. Se não cumprirmos as regras de organização
da sociedade, a mesma vai atuando sobre nós na forma de
advertências, desemprego, perda da vaga, no caso das situações indicadas
acima. E existem outras situações, como chegar atrasado na prova
de um concurso e não podermos entrar mesmo que a responsabilidade
sobre o atraso não seja nossa. Ou melhor, imagine que você está
observando o pôr-do-sol e pensando sobre como esta cena é bonita;
ou pensando na sua vida – familiares, amigos, namorados e namoradas,
emprego, escola, futebol... enfim, tudo que diz respeito a você. O que
isso tem haver com a dominação e a reprodução na sociedade?

O seu pensamento não ocorreu sem você estar ligado à sociedade
em que vive. Você não começou a pensar naquele momento, pois tudo
que você sentiu não surgiu de repente. Você o trouxe consigo, pois realizou
a experiência de ser punido pelos códigos de conduta, e aprendeu
ao longo de sua vida o que significa ser punido de alguma forma.

Assim, você sabe quando está na hora de ir para o emprego, pois
se não for vai ser no mínimo repreendido, podendo até ser demitido.
Assim você se levanta e deixa de ver o nascer do Sol e vai para a empresa,
o banco, a loja, o mercado, a colheita, o armazém, o escritório
da cooperativa.

Você já ouviu falar da trilogia do filme Matrix? Nessa trilogia, segundo
o enredo, as pessoas vivem em um mundo que a máquina criou.
Tudo que o ser humano é e deseja está nesta história, ligado a esta dominação.
Alguns personagens se revoltam contra esta situação e se organizam
para romper com ela. A frase a seguir está no primeiro filme
da trilogia: “Você vivia em um mundo de sonhos, Neo”. Ela, dentro da
história é o momento em que é demonstrado a um dos personagens, o
Neo, que o mundo em que ele vivia era criado pela máquina.

Já observou também, na televisão, as propagandas de carros que
mostram todos felizes, vivendo aventuras, satisfeitos e realizados com
a posse do automóvel? Ou ainda as propaganda de celulares (você têm
um?) em que a satisfação se realiza tendo em vista a posse de um celular
mais e mais sofisticado?

É como se vivessemos um outro mundo controlado por outras pessoas
e objetos, e que vamos aceitando como se ele fosse normal e universal.

 “Além disso, se é impossível
achar em cada homem uma
essência universal que seria a
natureza humana, existe contudo
uma universalidade humana
de condição. Não é por
acaso que os pensadores de
hoje falam mais facilmente de
condição do homem que da
sua natureza. Por condição
entendem mais ou menos
distintamente o conjunto de
limites a priori que esboçam a
sua situação fundamental no
universo. As situações históricas
variam: o homem pode
nascer escravo numa sociedade
pagã ou senhor feudal
ou proletário. Mas o que não
varia é a necessidade para
ele de estar no mundo, de lutar,
de viver com outros e ser
mortal (....) E embora os projetos
possam ser diversos,
pelo menos nenhum me é inteiramente
estranho (...)” (Sartre,
1978:16).

A dominação ideológica e o interesse do indivíduo.

Mas este processo ideológico que atinge a todos os indivíduos,
transformando a nossa maneira de entender e pensar e, portanto agir,
não é somente um processo de dominação. É possível encontrar no
nosso dia-a-dia, manifestações de ruptura desta ideologia. Vejamos como
isso poderia ocorrer:

Imagine que você e seus amigos resolveram reivindicar mais luz e
infra-estrutura de lazer no seu bairro. Vocês vão ter que se organizar,
fazer abaixo assinado, entrar em contato com a prefeitura, exigir a presença
dos vereadores. Mas, o terreno que vocês estão pensando em
utilizar para construir uma praça com bancos, quadra, iluminação, palco
para apresentações, um galpão para reuniões é alvo de interesse de
uma construtora e de imobiliárias. Existem outros terrenos, mas para
vocês este é o melhor porque está localizado ao lado de um bosque
de mata nativa. E é por isso que a construtora está também interessada.
Vai construir um condomínio de luxo na região. Vejam só a disputa
que vai ser para convencer a prefeitura que o terreno deve ser destinado
para o lazer do bairro. Assim como vocês, a construtora vai se
organizar.

De um lado vocês e seus amigos e do outro a construtora. No meio
está o poder público, representado pela prefeitura. Será uma boa briga,
se vocês de fato tivessem interesse e disposição para organizar esta
luta. Então, não são somente os interesses daqueles que detêm o capital
e o controle das decisões que vão se organizar e
se manifestar. Aqueles que não são proprietários do
capital, mas da sua força de trabalho – energia e conhecimento,
também vão ter os seus interesses expressos
nos embates dentro da sociedade. Não esqueça
que capital é a riqueza – fábricas, máquinas,
matéria-prima, prédios, ações – que é propriedade
do capitalista que deve ser constantemente
investida para gerar
mais capital.

Entenda e fique
atento para a questão
a seguir, que na sociedade
capitalista, o poder
público está a serviço
da classe dominante,
via seus representantes nos
governos. O governo de um
município é realizado por pessoas
que possuem identificações
políticas com as mais diferentes propostas
sobre como administrar e governar
uma cidade. Isso ocorre porque
nesta sociedade não existe neutralidade nas ações que as pessoas desenvolvem,
pois como a ação humana é uma ação histórica e política,
ela sempre vai representar os interesses das classes sociais, das mais
variadas formas, em meio aos confrontos entre a ideologia dominante
e os interesses dos dominados.

Assim, estes interesses – dos dominados – expressam-se das mais
variadas formas, sejam organizados nos sindicatos, nos partidos políticos
ligados às lutas democráticas e dos trabalhadores, sejam nos movimentos
sociais – feministas, negros, étnicos, estudantil, ecológicos,
do campo e da cidade, pelo direito ao emprego, à terra, por moradia
e por infra-estrutura básica.

Por exemplo, você já deve ter ouvido falar em greve! Este é um direito,
que no Brasil é assegurado por lei a partir de 1988 com a promulgação
da Constituição. Esse direito é exercido pelos trabalhadores
organizados nos seus sindicatos, nos momentos em que precisam pressionar
mais os seus empregadores – no meio rural e urbano, no setor
de serviços ou produtivo, no setor público ou no privado, no Brasil e
em muitos lugares do mundo.

Quando exercem este direito estão defendendo os seus interesses
por melhores salários e melhores condições de trabalho. Esses interesses
são diferentes dos seus empregadores, que no capitalismo, buscam
economizar com o trabalho e aumentar o capital. Esse modo de confrontação
ao ser exercida pelos trabalhadores na forma de greve faz
com que os seus interesses se contraponham aos dos empregadores.

Como vimos acima, aqueles que dominam a sociedade querem que
sejamos conformistas, que aceitemos as regras que a ideologia dissemina
na sociedade. Com a greve ou outra forma de contestação – manifestações,
passeatas, operações para diminuir o ritmo do trabalho,
faltas coletivas, denúncias na imprensa e no ministério público – os trabalhadores
abrem brechas na ideologia dominante, possibilitando que
outra forma de pensar e agir no cotidiano possa se desenvolver, o que
pode possibilitar que um questionamento sobre a organização da sociedade
ocorra.

Este desenvolvimento enfrentará a dominação ideológica pela ação
da classe dominante, que ao utilizar todos os meios de comunicação, o
aparato militar e disseminação de idéias, vai reforçar a ideologia predominante
de que as pessoas “são baderneiras, gostam de confusão e
querem prejudicar o país”.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Filosofia da Arte.



Elementos da percepção.
Perceber é ser capaz de identificar o modo como a realidade aparece e ter alguma reação subjetiva a ela, ou seja, uma reação pessoal, individual.
Há muito tempo, a filosofia aborda as percepções em diferentes áreas de reflexão. A Teoria do Conhecimento, por exemplo, investiga se elas são confiáveis ou não, mas quer elas sejam realidades ou aparências, quer sejam, essências ou fenômenos, o fato de serem ou não agradáveis e a possibilidade de serem universais ou particulares também intrigaram os filósofos.
Por isso, além de investigar, por exemplo, se pessoas diferentes veriam uma imagem semelhante ao contemplarem determinado objeto, eles também entraram no universo do gosto para descobrir se tal imagem seria agradável ou desagradável para todas e por quê. Assim, inauguraram uma nova área da Filosofia, para discutir questões ligadas à sensibilidade, ao gosto e à arte.
Diante dessa informação, é possível que você sem lembre do ditado popular, segundo o qual “gosto não se discute”. No entanto, vale destacar que ele não deve ser compreendido literalmente, ou seja, ele não significa que essa discussão não exista na prática e, sim, que, de tão complexa, a maioria prefere abandoná-la. Entretanto, será visto a seguir que, no desenrolar da História, essa não tem sido a atitude dos filósofos.
O termo sensibilidade aplica-se à faculdade de sentir e de perceber sensorialmente a realidade que nos cerca. Decorrem dessa capacidade as sensações físicas, bem como a ela se relacionam as emoções e os sentimentos.
Gostar ou não gostar.
Por que você gosta de coisas que outras detestam ou tem gosto parecidos com os de alguns – principalmente aqueles que têm idade próxima à sua e fazem parte do seu ambiente cultural? As qualidades que pertencem às coisas são objetivas, e as formas de perceber são subjetivas, ou seja, dependem do sujeito que percebe. Por isso, mudam para cada espécie ou indivíduo. Assim sendo, a faculdade de perceber, por exemplo, a cor do céu – que é azul – é universal, enquanto a experiência de apreciar essa cor ou detestá-la é particular. Ademais, as pessoas encontram dificuldades para justificar, por meio de argumentos, as suas opiniões favoráveis ou desfavoráveis sobre determinado prazer ou desprazer para cada um. E existe uma dificuldade ainda maior no que diz respeito a justificar a impressão de que algo é belo ou feio.
Em busca do belo.
 Ao escolher objetos, as pessoas seguem critérios que tornam uns preferíveis a outros, como o valor material e a utilidade, mas também a perfeição, o caráter agradável ou a beleza. Isso mostra que elas não são indiferentes ao belo e que admirar é uma das possíveis formas de contemplar o mundo – assim como investigar ou interpretar.
Além disso, a busca do belo surge até nos aspectos mais corriqueiros da vida humana. Basta observar o cuidado das pessoas com a própria aparência e a das coisas que produzem ou adquirem. Nem sempre elas associam a beleza à utilidade ou a qualquer outro valor, desejando certas coisas simplesmente por serem bonitas. Embelezam o corpo, mesmo com sacrifícios – o que levado a extremos gera a chamada da ditadura da beleza; buscam vestir belas roupas, mesmo que elas não as protejam dos excessos do clima; decoram suas casas, mesmo que isso não as tornem mais práticas ou confortáveis.
É possível definir o belo?
Na Antiguidade grega, Platão definia o belo como a ideia perfeita que daria forma a todas as coisas bonitas. Entendia a experiência do belo como sendo uma manifestação da alma e não da sensibilidade física. Associava a ideia do belo às ideias de bom e verdadeiro, afastando-a, por isso, das representações artísticas. Platão não era a favor da arte, segundo ele, a arte era uma cópia das coisas deste mundo, do Mundo Sensível.  Este mundo, o Mundo Sensível, era uma cópia do mundo perfeito, o Mundo das Ideias. O filósofo dizia, então, que a arte não leva o ser humano à verdade e que a arte não faz o homem alcançar o Mundo das Ideias, local este que se encontra a verdade de todas as coisas. Mas, ele diz que o belo se liga ao bom e ao verdadeiro. Algo belo, para o Platão, se encontrava no Mundo das Idéias, lugar da perfeição, do verdadeiro e do bom. O belo é diferente da arte. Assim sendo, a única arte que Platão aceitaria, então, seria a arte que criou as ideias perfeitas, verdadeiras e boas que se encontra no Mundo das Ideias.
Aristóteles, também da Antiguidade grega, destacava a relação da beleza com a justa medida, a proporção, a simetria e a harmonia, admitindo a presença do belo também na arte e na ficção. Para esse filósofo, algo belo era algo proporcional em não o objeto de arte desproporcional. Os elementos que compõem a obra de arte - por exemplo, o ser humano - devem estar em simetria, em harmonia, ou seja, o nariz proporcional à perna que deve estar proporcional ao braço que deve ser proporcional aos ouvidos que deve ser proporcional às unhas e estas proporcionais aos pés. O belo, então, para Aristóteles estava relacionado também à matemática.
Na Idade Média, a noção do belo atrelou-se a questões teológicas, como a tese de que toda a realidade e a arte se constituem como criação divina. Nesse contexto, valorizava-se a beleza transcendente do mundo espiritual que aguardava o homem, após o término de sua jornada na Terra, para que ele pudesse desfrutas da vida eterna com Deus.
São Tomás de Aquino, na Idade Média, indicava três elementos formadores do belo: a integridade, a proporção e a claridade. Esse filósofo associava a perfeição à integridade que é a plenitude de um objeto de arte, ou seja, não falta a esse objeto de arte; associava a bondade à proporção, ou seja, todos os elementos do objeto devem estar proporcionalmente para que ele seja belo; e, associava a verdade do objeto de arte à claridade, ou seja, a evidência do objeto. Tomás de Aquino, ainda defendia que “o belo como o que agrada a visão”, isto é, a visão é citada em sua relação com o intelecto, com a razão, capaz de identificar a harmonia entre a integridade, a proporção e a claridade no objeto. Para esse filósofo, a experiência criadora do artista estava relacionada, também, à intuição humana da beleza que provém de Deus.
Immanuel Kant, no século XVIII, afirmava que “o belo é o que agrada universalmente, sem depender de um interesse ou de um conceito”. Para Kant a beleza era um dado objetivo, ou seja, ela estava presente nos próprios objetos de arte como um atributo destes, e o gosto era a faculdade humana de julgar esse dado objetivo. Os juízos de gosto – os julgamentos a partir de nossos gostos – não são lógicos, provenientes da razão, mas são estéticos, isto é, sensíveis e subjetivos. Os juízos de gosto não dependem dos conceitos, que estão na mente humana, por isso não são técnicas e práticos. Esses juízos de gosto são apenas contemplativos e isso significa que não há modelo ou norma que poderia ser utilizada para determinar previamente o que é belo e o que não é belo. Se uma pessoa diz “A escultura é bela”, Kant diria que o conceito de escultura permitirá que o interlocutor compreenda de que a pessoa está falando, mas não revelará se a borá de arte é bela ou não, pois essa característica não faz parte do conceito de estátua. Para que o interlocutor possa tecer um juízo estético é necessária a observação pessoal desse interlocutor. Kant, então, diria que o belo está presente na própria obra de arte (no objeto de arte, que é a estátua) como um atributo objetivo presente na estátua, universalmente percebido pelas pessoas.
Kant ainda irá diferenciar o belo do agradável. A principal diferença em relação ao agradável seria o fato de se buscar este último devido a um interesse, o que não ocorreria na busca do belo. Um homem poderá dizer que sua mulher é bela mesmo ela perdendo a saúde ou partes do corpo um acidente de trânsito. Mas, ele poderá deixar de amá-la, após o acidente, se tiver apenas interesse em sua mulher e ela ser agradável a ele.
Fonte: Livro Positivo, adaptado.