Desde os
primórdios da humanidade, a vida em sociedade é marcada por contradições e
conflitos. Na atualidade, este fato está cada vez mais visível, na medida em
que assistimos, atônitos, ao alto grau de violência nos grandes centros
urbanos. A todo instante, somos conduzidos a crer que a violência faz
parte da condição humana, ou seja, que somos naturalmente seres violentos. Com
efeito, acreditar nesta premissa torna-se argumentativamente onerosa, pois,
como se sabe, nada pode justificar de forma plausível que a violência nos
é verdadeiramente inerente.
De fato, no
contexto do sistema que emerge na atualidade, as relações humanas encontram-se
cada vez mais imersas em atitudes de intolerância, deflagrando assim um
empobrecimento das condições de vida. A “boa vida” que Aristóteles
apregoa não nos cabe mais? Em nosso cotidiano, não cabe mais pensar na
solidariedade? Vivemos numa época de transformações em todos os níveis. Não
obstante, estas transformações refletem inexoravelmente na nossa própria
capacidade de lidarmos com o semelhante ou o outro. O outro é cada vez mais
estranho para nós, ele está mais distante de nossa própria capacidade de
compreendermo-nos enquanto indivíduos e cidadãos. Somos mesmo um animal político?
Nossa condição natural é sermos hostis, intolerantes, egoístas e desleais? Como
definir o gênero humano?
As respostas a
estas indagações devem necessariamente perpassar pelo questionamento das
condições e particularidades da natureza humana. Neste viés
argumentativo, o problema acerca da natureza humana emerge na História da
Filosofia como uma reflexão sobre a própria animalidade do homem. Afinal, o
objetivo de uma reflexão sobre a essência da natureza humana não é identificar
aquilo que é próprio do homem??
Com o propósito
de nos guiar neste assunto tão complexo e rico de argumentos e contra-argumentos
torna-se absolutamente necessário um solo firme para que se possa apoiar em
vista a alcançar a significação plena da nossa própria natureza e,
consequentemente, das explicações para nossos atos e dilemas atuais.
Desse modo, a contradição de ideias de Aristóteles e Hobbes nos será
fundamental neste objetivo.
A natureza egoísta dos homens.
A dificuldade
em aceitar outras ideias, como as advindas da Religião, é mostra de que o homem
é, essencialmente, egoísta e intolerante? Como é possível viver em sociedade
desta forma?
O exame
proposto pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) acerca da natureza
humana ocorre em dois planos que, de certa forma, se complementam. Assim, o
Filósofo parte dos primeiros indícios de movimento do homem, em vistas ao
conhecimento das paixões e outras faculdades humanas, com o objetivo maior de
demonstrar, em um segundo momento, como estas paixões e faculdades determinam o
comportamento inevitável do homem em relação aos outros homens, quando removida
a obrigação do cumprimento da lei e dos contratos, o estado de
natureza.
Desse modo, por
meio da descrição do comportamento dos homens neste estado, Hobbes
caracterizará a natureza do “homem natural” no plano de interação a partir de
dois predicados fundamentais: (a) o primeiro, decorrente da igualdade de
condições, é a cobiça natural dos homens proveniente das suas paixões; (b) o
segundo, é o desejo que cada homem possui de evitar a morte como
o maior dos males da natureza. O primeiro predicado que caracteriza o homem
natural “abarca o uso desregrado que faz do seu derredor”, procurando decidir a
ferro e fogo a questão do “meu” e do “teu” a seu favor, ignorando, acima de
tudo, qualquer prescrição normativa. De acordo com Hobbes, a cobiça humana não
conhece limites naturais, de modo que a pergunta acerca do que pertence a um ou
a outro homem é decidida pelo poder que cada homem consegue exercer sobre os
semelhantes. O segundo predicado explicita a racionalidade da conduta dos
homens no estado de natureza, ao passo que os homens violam a palavra dada,
quebram acordos ocasionais e “se agridem reciprocamente na medida em que não
são capazes de descobrir como irão agir e reagir os seus semelhantes em cada
momento, razão pela qual é melhor o ataque do que ser atacado”.
Tal
caracterização da natureza humana já é suficiente para inferir que, por
natureza, o homem hobbesiano tende para a associabilidade no lugar
da sociabilidade. Esta pressuposição é perfeitamente justificável pelo fato de
que, sendo os homens naturalmente iguais e detentores dos mesmos direitos,
dificilmente os homens poderiam estabelecer naturalmente uma sociabilidade
estável de maneira a garantir uma convivência pacífica sem causar danos uns aos
outros. Citemos Hobbes no Leviatã: “(...) os homens não tiram prazer
algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme desprazer),
quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito. Porque cada um
pretende que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele se atribui a si
próprio e, na presença de todos os sinais de desprezo ou subestimação,
naturalmente se esforça, na medida em que tal se atreva (o que, entre os que
não têm um poder comum capaz de submeter a todos, vai suficientemente longe
para levá-los a destruírem-se uns aos outros), por arrancar de seus contendores
a atribuição de maior valor, causando-lhes dano e dos outros também, através do
exemplo”.
Dessa forma, é
possível conceber que Hobbes empreende uma caracterização da natureza humana em
oposição à concepção clássica ou aristotélica, segundo o qual o
homem é, devido à sua natureza singular, um “animal político” (zóon
politikón) determinado por um instinto gregário que o conduziria
espontaneamente a conviver com seus semelhantes. Vejamos, portanto, como
Aristóteles apresenta esta concepção para, a partir desta, mostrar como Hobbes
desenvolve a sua crítica ao modelo de homem, tal como é concebido pela tradição
aristotélica.
Aristóteles e a política.
Em sua obra
Política, o filósofo grego Aristóteles (384 a .C.- 322 a .C.) afirma ser a pólis (a
cidade-estado grega) resultante de uma série de associações naturais, ou seja,
como resultado de um processo natural de desenvolvimento, “tão natural como a
união de homem e da mulher – com fim de preservar a espécie”. Uma
associação humana qualquer é, segundo o filósofo em questão, um todo composto
por pelo menos mais de um indivíduo, que tem como fim um determinado bem. Como
afirma Émile Boutroux, “em Aristóteles, segundo a ordem do tempo, a primeira
destas associações corresponderia à família (oikía), que é, portanto, a
união natural do homem e da mulher em vista de satisfazer a necessidades cotidianas”.
No Brasil, uma
antiga propaganda de cigarro com um jogador da seleção brasileira da época
propiciou a famosa “Lei de Gérson”. Ela é usada hoje para determinar um certo
estereótipo nacional, daquele que quer levar vantagem em tudo e, por isso, não
respeita regras de convivência
Em seguida,
tendo em vista a natureza processual no que concerne as associações humanas,
Aristóteles concebe outra forma de associação, esta, portanto, proveniente da
união de diversas famílias para suprir necessidades que não se limitam à vida
cotidiana, o qual denomina de aldeia (kóme), cuja forma mais natural
parece ser a de uma “colônia da família”. Por fim, Aristóteles caracteriza a
maior de todas as associações, que “inclui em si todas as demais”, tendo em
vista o maior de todos os bens. Esta associação, que resulta na cidade,
Aristóteles a denomina de “associação (ou comunidade) política”.
Vejamos como o
filósofo expõe essa perspectiva: “(...) A comunidade formada por muitas aldeias
é a cidade (pólis) definitiva; da qual se pode dizer que atinge desde
então a completa autossuficiência (autarkéias). Surgindo para permitir
viver (tôu zên), ela existe para permitir viver bem (tôu êu zên).
Portanto, se as primeiras comunidades são um fato da natureza, também o é a
cidade, porque ela é o fim daquelas comunidades, e a natureza de uma coisa é o
seu fim: aquilo que cada coisa se torna quanto atinge seu completo
desenvolvimento, nós chamamos de natureza daquela coisa, quer se trate de um
homem, de um cavalo ou de uma família”.
De fato,
Aristóteles define a cidade como a forma última do processo natural concernente
à associação humana, pois é aquela que pode permitir aos homens uma vida
melhor, isto é, uma vida com qualidade. Disto resultam duas
consequências quase imediatas sobre esta questão: a cidade existe
naturalmente e o homem vive por natureza em cidades. Tais considerações ficam
patentes na seguinte passagem da Política: “Estas considerações
deixam claro que a cidade é uma criação natural, e que o homem é por natureza
um animal social, e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não
fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da
humanidade (...), e se poderia compará-lo a uma peça isolada do jogo de gamão”.
Tal conclusão
que caracteriza a cidade (pólis) como uma associação que possui por
finalidade o soberano bem, fundamenta-se, como se pode observar, em três
premissas: a) que a cidade é certo tipo de associação; b) que toda associação é
constituída em vista de certo bem; c) que de todas as associações, a cidade é a
mais importante ou a “soberana comunidade” é aquela que inclui todas as outras.
Disto se depreende facilmente que o bem próprio visado por esta associação
soberana é o “bem soberano”.
Na perspectiva
de Francis Wolff , esta tese é fundamental, pois ela distingue a
argumentação de Aristóteles de todos seus predecessores, na medida em que, no
lugar de justificar a cidade por razões gerais comuns a qualquer associação,
atribui a cada tipo de associação uma razão de ser própria e confere assim à
Política uma esfera singular. No lugar de atribuir à cidade a mais baixa das
finalidades, ou, ao menos, a justificação mínima (a associação política é necessária
porque é necessário afinal viver, no sentido de sobreviver, isto é, ajudar-se
mutuamente), Aristóteles confere-lhe, desde logo, a finalidade mais elevada: se
os homens vivem em cidades, não o fazem somente por não poderem evitá-lo, mas
para atingir o mais alto, “o maior dos bens”.
Desse argumento
advém o elemento fundamental da ontologia aristotélica que Wolff caracteriza da
seguinte forma: “um homem, uma comunidade, um ser qualquer serão felizes
somente se puderem se bastar a si mesmos, isto é, se encontrarem em si mesmo
aquilo com que sejam eles mesmos, serem sem ter necessidade de nada. Ninguém é
plenamente, se lhe faltar alguma coisa, se não for plenamente. Um homem sozinho
é carente. Não pode ser. Carece dos outros, porque carece de tudo. Os homens,
seres “de carência”, podem juntos se completar com aquilo que lhes falta. O homem
não pode ser, e portanto não pode ser homem, se não for pela e na comunidade. A
comunidade política sendo aquela que não carece de nada, é a única a plenamente
ser. Portanto, é somente por ela que o homem é plenamente: é na cidade e pela
cidade que o homem é homem”.
Ainda que a
cidade seja constituída na naturalmente, isto não significa que a natureza a
produza espontaneamente. As associações humanas possuem como fim um determinado
bem, pois, segundo Aristóteles, todas as ações humanas são realizadas em vistas
a algo que lhes parece ser realmente bom. Logo, aquele que se associa a outro
possui em vista um bem para si com essa associação. No entanto, esta associação
é, segundo Aristóteles, consequência de um impulso natural, um instinto, que
naturalmente conduzem os homens a este fim tendo em vista a uma “boa vida”.
É nesse sentido
que a cidade é considerada para ele como resultante de um processo último das
associações humanas no qual os homens atingiriam a realização do fim maior que
perseguem, que é a “boa vida”. Ou seja, não apenas uma mera vida, mas uma vida
com “qualidade”, ou seja, uma “boa vida”. Não obstante, o fim de cada homem na
cidade que é a manutenção da qualidade de sua própria vida depende, portanto,
que os homens atinjam seu próprio fim, que é o seu bem principal, a saber, a
sua autossuficiência, ou seja, ao contrário do homem, a cidade tem
que ser um fim em si mesmo.
Essas
considerações tornam manifesto que a cidade é uma realidade natural e que o
homem é, por natureza, um animal político (politikón zôon). Aquele que,
por natureza e não por mero acidente, não faz parte de uma cidade é ou um ser
degradado ou um ser superior ao homem. Ele é como aquele a quem Homero censura
por ser “sem clã, sem lei e sem lar”; um tal homem é, por natureza, ávido de
combates, e é como uma peça
isolada no jogo de damas. É evidente, assim, a razão pela qual o homem é um
animal político em grau maior que as abelhas ou todos os outros animais que
vivem reunidos.
Apesar disso, o naturalismo desse processo descrito por
Aristóteles assenta, antes de tudo, na espontaneidade da gênese da cidade a
partir dos agrupamentos que a integram, movidos pelo objetivo de obter o que se
lhes apresenta como bem. Dessa forma, o naturalismo subjacente à formação da pólis explica-se, ainda, pela realidade
desta enquanto comunidade de
cidadãos, de modo que a respectiva natureza se confunde com a dos seus
membros. Com efeito, neste sentido os homens não se definem como meros “animais
gregários”, mas são por natureza animais políticos. Isto significa que, para
realizar as suas potencialidades específicas, os homens necessitam viver com os
seus semelhantes numa comunidade ordenada ou submetida às leis e à justiça
Transhumanismo:
Nanotecnologia
para pessoas “imortais”.
O
transhumanismo é um movimento que defende o uso da Ciência e Tecnologia para
aumentar a inteligência, a longevidade e o bem-estar dos seres humanos, bem
como para eliminar o sofrimento de todos os seres conscientes. Seguidores do
movimento transhumanista acreditam que aspectos, considerados negativos da
natureza humana, são desnecessários e indesejáveis.
Deficiências
físicas e mentais, o sofrimento, a doença, o envelhecimento e a morte
involuntária estão na lista de atributos da natureza humana considerados
desnecessários pelo transhumanismo.
Ray
Kurzweil, o cientista por trás do conceito, é chamado de “apóstolo do
transhumanismo”, e autor de livros sobre o tema, tal como: “When Humans
Transcend Biology” (Quando os Humanos Transcendem a Biologia) e “The
Age of Spiritual Machines” (A era das máquinas espirituais).
Kurzweil é
muito respeitado pela comunidade científica e tem oito doutorados honorários.
Conhecido como Cyber- Nostradamus e chamado de futurista por nunca ter errado
uma previsão, ele afirma que, a partir de 2045, o ser humano poderá estar
totalmente integrado a uma Inteligência Artificial e que surgirá uma nova raça,
que desconhecerá o envelhecimento e a morte.
De acordo
com a teoria, pessoas receberão “nano chips” no cérebro, o que aumentará sua
capacidade intelectual um bilhão de vezes.
Segundo a
revista Exame, o chamado “apóstolo do transhumanismo” tem hoje 62 anos e toma
250 comprimidos por dia para alcançar o ano 2029, data em que ele diz ter
certeza de que, a partir dali, os seres humanos poderão viver para sempre.
Veja no site "noticias.gospelmais.com.br/transhumanismo-seita-quer-transformar-pessoas-em-deuses-imortais-30227.
html" a explanação de um dos defensores do transhumanismo, Michio Kaku,
sobre sua crença de que todos os seres humanos se tornarão deuses
O conflito entre as posições.
Diante
desses referenciais conceituais sobre a argumentação política aristotélica,
pode-se, portanto, explorar a crítica hobbesiana ao modelo de homem, tal como é
compreendido por Aristóteles. No entanto, a explicação deve ser entendida no
contexto de uma discussão que remeta diretamente a argumentação de Hobbes
acerca da necessidade do contrato social. Desse modo, primeiramente, é preciso
ressaltar que, segundo este, Aristóteles parte de um axioma falso para deduzir
a necessidade do Estado, pois este se sustenta teoricamente na medida em que
não está de acordo com a realidade: “A maioria dos homens que escreveram sobre
o Estado (Commonwealth)”, observa o filósofo, “supõe ou exige ou nos
pede que acreditemos que o homem seja uma criatura por natureza apta à vida em
sociedade”. Na visão de Hobbes, o erro de Aristóteles consiste
numa contemplação superficial da natureza humana. Esta contemplação superficial
impede, de certa forma, afirma Ribeiro, “de identificar onde está o conflito, e
de contê-lo”.
Sobre isto, vejamos a seguinte passagem: “Apesar de muito
difundida, é ainda assim falso; trata-se de um erro resultante de uma análise
muito superficial da natureza humana, pois, ao analisarmos mais apuradamente as
razões que levam os homens a se agregarem em sociedade e a se deleitarem na
companhia uns dos outros, descobriremos que isso não ocorre necessariamente,
mas sim por causalidade”. Avesso a esta pressuposição, Hobbes
fornece uma prova contrária quando argumenta: “se os homens se
amassem reciprocamente graças à sua natureza, isto é, devido ao fato de serem
homens, seria inexplicável por que não amam cada semelhante de forma igual, já
que todos são igualmente homens”.
Desse modo, para o filósofo, “as razões pelas quais os
homens se associam uns com os outros só se tornam claras ao observar o que
fazem depois de se haverem congregados em sociedade”. Hobbes, logo após
explicitar que há seres vivos como as abelhas e as formigas que, vivendo
socialmente umas com as outras, possuem seus juízos e desejos particulares e
dispõem de outro meio afora sua
linguagem, por meio da qual indicam às outras o que consideram adequado
para o bem comum, no Leviatã, fornece seis razões pelas quais esses
animais não servem como modelo para o convívio humano.
Diante dos
argumentos de Hobbes, no qual ele contrasta a sociabilidade humana da
sociabilidade animal, podemos inferir, por sua demonstração, que a
sociabilidade humana é bastante diferente da sociabilidade natural
aristotélica, pois mesmo os desvios do comportamento animal, este não deixam de
perseguir um fim comum, enquanto que a conduta humana tende naturalmente para a
desagregação. Por outro lado, os desvios dos homens, ao contrário dos animais,
adquirem rapidamente o caráter de lutas e querelas que acabam por determinar em
uma “guerra de todos contra todos”, colocando, portanto, em questão a própria
sociabilidade humana.
Portanto, em
Hobbes, a sociabilidade humana não é natural, mas sim política, na medida em
que a associação entre os homens ocorre por acidente, e não por uma disposição
necessária da natureza.
Embora ambos os
filósofos considerem os homens em relações uns com os outros, a perspectiva
hobbesiana avalia a natureza do homem natural de forma absolutamente negativa,
na medida em que atribui a sua natureza atributos que os caracterizam em um
formato de ferocidade e egoísmo, evidenciando que o que há de mais universal
nestes advém, sobretudo, da cobiça natural de cada um proveniente de suas
paixões naturais.
A leitura de
Hobbes acerca da natureza humana repercute até hoje sendo motivo de muitas
discussões. Polêmico, ousado, e talvez, inconsequente, não se pode negar a
originalidade do seu pensamento. O que fica patente das suas conclusões é que
nas condições em que predomina uma perpétua disposição para a violência
generalizada, a conservação da vida torna-se inviável, tendo em vista que a
competição pelo poder como estratégia de sobrevivência resulta em uma situação
de insegurança absoluta, através do medo constante, por parte de cada homem, da morte
violenta imposta pelos demais.
Portanto,
diante do apresentado, podemos refletir: será possível os homens conviverem
pacificamente pela simples leitura do princípio do respeito à dignidade da
pessoa humana? Neste viés, Norbert Elias crê que o cidadão, enquanto indivíduo
ligado “à sociedade, possui seus temores a partir de ações violentas, pelo qual
quanto mais os indivíduos se inserem na vida dos semelhantes com atitudes de
perigo, maiores serão os temores sentidos e sofridos”.
Trata-se,
portanto, de uma de guerra no interior da sociedade de todos contra todos,
cujos valores humanos começam a arruinar-se pela inadequação da ausência de
respeito e, respectivamente da ausência do senso de justiça. Por sua
vez, tal inadequação explica perfeitamente a exacerbação da violência que
assola o homem contemporâneo e, por consequência, a sociedade como um todo.
Pensando assim, enfrentamos o estágio da negação da regra social, em que a
insegurança passa a ser a orientação básica dos homens, cuja liquidez das
relações desencadeia a exclusão e a desintegração social e,
por outro lado, a solidariedade cede cada vez mais espaço para o egoísmo
desenfreado.
Fonte: Revista
Filosofia, Delmo Mattos.