domingo, 6 de outubro de 2013

Filosofia da Ciência.



Dedução, indução e abdução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não conhecido, isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a conhecimentos já adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocínio, o intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e necessários entre as idéias ou entre os fatos.
Dedução.
A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por uma demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela. Em outras palavras, na dedução parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais. Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual. O ponto de partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira.
Por exemplo, se definirmos que todo ser humano é mortal e racional e João, Marcos e Maria são humanos, então, eles serão mortais e racionais. Outro exemplo: Nenhum deus tem qualidades humanas, então o Deus cristão não tem qualidade humana. Parte-se uma teoria geral para chegar a uma conclusão em relação a seres particulares.
Indução.
A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução. Com a indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares. A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso.
Por exemplo, os livros X, Y e Z têm capas vermelhas e foram obras literárias do ENEM. Eu tenho um livro que tem capa vermelha, então, esse livro será obra literária do ENEM.
Abdução.
A abdução é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo passo a passo para chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais, de indícios, de signos. O exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais, o modo como os detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o caso que investigam.
São ensinados os conteúdos X, Y e Z no 3º ano do Ensino Médio. Pedro está estudando os conteúdos X, Y e Z, então, Pedro é aluno do 3º ano do Ensino Médio.

A Epistemologia (estudo do conhecimento) moderna deu origem à filosofia da ciência contemporânea. No século XX, filósofos e cientistas de diferentes áreas voltaram a atenção para esse campo de reflexão, investigando diversos temas, entre os quais:
- o significado de ciência e de conceitos a ela associados;
- a validade dos métodos (caminhos) adotados pelas diferentes ciências em suas pesquisas;
- o alcance do conhecimento científico;
- as relações entre a ciência, a natureza e a vida humana (o que também envolve questões políticas, ecológicas e éticas).
Do cientificismo à Revolução Científica.
Foi visto que, no decorrer do tempo, a palavra “ciência” nomeou diferentes formas de conhecimento e, a partir do século XVII, os métodos matemáticos e experimental, bem como a associação do conhecimento à tecnologia, forjaram a ciência moderna. Esse novo modelo, que gerou o “mito do cientificismo”, adotava a investigação metódica de problemas, por meio de observações, hipóteses, cálculos e experimentos, em busca de leis universais ocultas sob os fenômenos particulares. Essas leis organizavam-se em teorias, das quais se esperava não apenas a explicação dos fenômenos atuais, como também a explicação e, até mesmo, a previsão de novos fenômenos.
Por outro lado, nos séculos XIX e XX o reconhecimento de algumas teorias foi abalado por novas descobertas, que elas não puderam explicar. Para que você entenda melhor essa crise e seus desdobramentos, serão apresentadas, a seguir, breves informações sobre as relações da ciência com quatro conceitos elaborados, respectivamente, por Auguste Comte (séc. XVIII), representantes do Círculo de Viena , Karl Popper, e Thomas Kuhn (século XX).
Progresso científico.
Comte e os defensores do positivismo (escola filosófica que tem a ciência como a única e confiável fonte de verdade e conhecimento) acreditavam no progresso do conhecimento, desde origens primitivas até a etapa ideal representada pela ciência moderna. Segundo essa visão, o conhecimento seria acumulativo e, portanto, as teorias científicas deveriam ter validade universal, mostrando-se aptas a explicarem novos eventos. Porém, isso não se concretizou frente a descobertas realizadas nos séculos XIX e XX. Na Física, por exemplo, as teorias da Relatividade (de Einstein) e Quântica negaram a universalidade de certas teorias de Newton. Esse tipo de impasse também ocorreu em outros campos da ciência, o que revelou a inconsistência da ideia positivista de progresso científico.
Verificabilidade.
Nos anos de 1920, alguns filósofos e cientistas austríacos, de origem judaica, formaram um grupo de pesquisa, reunindo-se na cidade de Viena, com o objetivo de encontrar fundamentos sólidos para o conhecimento científico. Mais tarde, alguns deles mudaram-se para os Estados Unidos. Esse grupo ficou conhecido como Círculo de Viena, e o seu movimento, como Positivismo Lógico ou Neopositivismo. Eles defendiam a importância de utilizar procedimentos da Matemática e da Lógica nos métodos científicos e tomavam a experiência como critério de verdade em relação a uma teoria. Seu objetivo era reavaliar as proposições (afirmações ou negações logicamente estruturadas) consideradas científicas. Desejavam manter somente aquelas que se referiam estritamente aos fenômenos empiricamente observáveis. Estabeleciam, assim a noção de verificabilidade, segundo a qual uma proposição só teria sentido para a comunidade científica quando seus membros pudessem indicar em que condições ela seria verdadeira ou falsa, ou seja, quando pudessem apontar as possibilidades de verificar essa verdade ou falsidade empiricamente. As proposições que não atendessem a esse critério permaneceriam no campo da Metafísica – área da Filosofia que investiga a essência da realidade (além do mundo físico) –, sendo rejeitas pela ciência.
Falseabilidade.
Karl Popper contestou o conceito de verificabilidade, afirmando que, em relação ao método indutivo, ela era impossível. Afinal, um cientista jamais conseguiria analisar todos os casos individuais, a fim de constatar a ausência de exceções empíricas às leis de uma teoria. Para exemplificar, ele utilizou a célebre imagem dos gansos: mesmo que inúmeros gansos sejam analisados, verificando-se neles a cor branca, não é possível concluir que “todos os gansos são brancos”, afinal, a existência de um ganso negro seria suficiente para contestar a universalidade da proposição científica, existência que não pode ser negada pela grande amostra de animais analisados.
Popper dedicou-se ao problema da demarcação da ciência, ou seja, buscou um critério capaz de distinguir o conhecimento científico dos demais tipos de conhecimento. Conclui que esse critério seria a falseabilidade. Para ele, uma teoria só poderia ser considerada científica se estivesse aberta à demonstração de sua falsidade. Enquanto a falsidade dessa teoria não fosse demonstrada, ela continuaria válida, mas, se isso ocorresse, ela seria substituída por outra, também falseável. Sendo assim, Popper não considerava as teorias científicas verdadeiras e definitivas, mas prováveis e provisórias.
Revolução Científica.
Ainda no século XX, o físico estadunidense Thomas Kuhn ampliou as reflexões da Filosofia da ciência. Ele afirmou que a ciência não se transformava pela substituição das teorias, mas por meio de revoluções. Segundo essa visão, ela passaria por diferentes fases de desenvolvimento.
1) Paradigma: é o modelo explicativo da realidade, visão de mundo formada por leis fundamentais, cuja aceitação seria compartilhada pelos membros de uma comunidade científica.
2) Ciência normal: é o período que o paradigma seria considerado na solução de problemas, orientando os métodos, as investigações e, portanto, as teorias elaboradas.
3) Anomalias: é a ocorrência de considerável número de problemas sem solução, colocaria em crise a ciência normal.
4) Revolução científica: é uma ruptura com o paradigma aceito e afirmaria um novo paradigma (retornando o ciclo ao primeiro item – paradigma).
Essa visão rompeu radicalmente com o ideal positivista de progresso, mostrando que não havia continuidade evolutiva entre os modelos científicos, mas, sim, ruptura e descontinuidade das teorias científicas. Portanto, a Física de Einstein ou a Quântica não surgiram com a evolução da Física galilaico-newtoniana, mas pela ruptura com ela, orientando-se por um novo paradigma. Assim, por mais ajustes que um modelo de ciência procurasse realizar, ele sempre haveria de enfrentar problemas insolúveis. Portanto, Kuhn não defendia a verificabilidade, nem aceitava a falseabilidade. Segundo ele, a nova ciência viria de um novo paradigma, algo maior do que uma teoria e anterior a ela, um conjunto de princípios capaz de dirigir o olhar e dar novos rumos às investigações sobre a realidade. Segundo ele, os cientistas não estariam predispostos a aceitarem a falsificação de suas teorias, pois, no mundo capitalista contemporâneo, a ciência não se desvincula de interesses socioeconômicos e até mesmo políticos – portanto, os cientistas procuram manter o seu prestígio profissional, justificar o financiamento às suas atividades, vencer a disputa com outras instituições de pesquisas e assim por diante. Logo, o próprio surgimento de um novo paradigma resultaria sempre de crises e tensões no meio científico.
Fonte: 3º volume, Sistema Positivo de Ensino (adaptado).