Dedução,
indução e abdução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao
ainda não conhecido, isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças
a conhecimentos já adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocínio, o
intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e
necessários entre as idéias ou entre os fatos.
Dedução.
A dedução
consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por uma
demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se
subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela. Em outras
palavras, na dedução parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que
ela se aplica a todos os casos particulares iguais. Por isso também se diz que
a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual. O ponto de
partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira.
Por exemplo, se
definirmos que todo ser humano é mortal e racional e João, Marcos e Maria são
humanos, então, eles serão mortais e racionais. Outro exemplo: Nenhum deus tem
qualidades humanas, então o Deus cristão não tem qualidade humana. Parte-se uma
teoria geral para chegar a uma conclusão em relação a seres particulares.
Indução.
A indução
realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução. Com a indução, partimos
de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a
definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos
particulares. A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso.
Por exemplo, os
livros X, Y e Z têm capas vermelhas e foram obras literárias do ENEM. Eu tenho
um livro que tem capa vermelha, então, esse livro será obra literária do ENEM.
Abdução.
A abdução é uma
espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo passo a passo para
chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação
racional de sinais, de indícios, de signos. O exemplo mais simples oferecido
por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais, o modo
como os detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o
caso que investigam.
São ensinados
os conteúdos X, Y e Z no 3º ano do Ensino Médio. Pedro está estudando os
conteúdos X, Y e Z, então, Pedro é aluno do 3º ano do Ensino Médio.
A Epistemologia
(estudo do conhecimento) moderna deu origem à filosofia da ciência
contemporânea. No século XX, filósofos e cientistas de diferentes áreas
voltaram a atenção para esse campo de reflexão, investigando diversos temas,
entre os quais:
- o significado de ciência e
de conceitos a ela associados;
- a validade dos métodos
(caminhos) adotados pelas diferentes ciências em suas pesquisas;
- o alcance do conhecimento
científico;
- as relações entre a
ciência, a natureza e a vida humana (o que também envolve questões políticas, ecológicas
e éticas).
Do cientificismo à Revolução Científica.
Foi visto que,
no decorrer do tempo, a palavra “ciência” nomeou diferentes formas de
conhecimento e, a partir do século XVII, os métodos matemáticos e experimental,
bem como a associação do conhecimento à tecnologia, forjaram a ciência moderna.
Esse novo modelo, que gerou o “mito do cientificismo”, adotava a investigação
metódica de problemas, por meio de observações, hipóteses, cálculos e
experimentos, em busca de leis universais ocultas sob os fenômenos
particulares. Essas leis organizavam-se em teorias, das quais se esperava não
apenas a explicação dos fenômenos atuais, como também a explicação e, até
mesmo, a previsão de novos fenômenos.
Por outro lado,
nos séculos XIX e XX o reconhecimento de algumas teorias foi abalado por novas
descobertas, que elas não puderam explicar. Para que você entenda melhor essa
crise e seus desdobramentos, serão apresentadas, a seguir, breves informações
sobre as relações da ciência com quatro conceitos elaborados, respectivamente,
por Auguste Comte (séc. XVIII), representantes do Círculo de Viena , Karl
Popper, e Thomas Kuhn (século XX).
Progresso científico.
Comte e os
defensores do positivismo (escola filosófica que tem a ciência como a única e
confiável fonte de verdade e conhecimento) acreditavam no progresso do
conhecimento, desde origens primitivas até a etapa ideal representada pela
ciência moderna. Segundo essa visão, o conhecimento seria acumulativo e,
portanto, as teorias científicas deveriam ter validade universal, mostrando-se
aptas a explicarem novos eventos. Porém, isso não se concretizou frente a
descobertas realizadas nos séculos XIX e XX. Na Física, por exemplo, as teorias
da Relatividade (de Einstein) e Quântica negaram a universalidade de certas
teorias de Newton. Esse tipo de impasse também ocorreu em outros campos da ciência,
o que revelou a inconsistência da ideia positivista de progresso científico.
Verificabilidade.
Nos anos de
1920, alguns filósofos e cientistas austríacos, de origem judaica, formaram um
grupo de pesquisa, reunindo-se na cidade de Viena, com o objetivo de encontrar
fundamentos sólidos para o conhecimento científico. Mais tarde, alguns deles
mudaram-se para os Estados Unidos. Esse grupo ficou conhecido como Círculo de
Viena, e o seu movimento, como Positivismo Lógico ou Neopositivismo. Eles
defendiam a importância de utilizar procedimentos da Matemática e da Lógica nos
métodos científicos e tomavam a experiência como critério de verdade em relação
a uma teoria. Seu objetivo era reavaliar as proposições (afirmações ou negações
logicamente estruturadas) consideradas científicas. Desejavam manter somente
aquelas que se referiam estritamente aos fenômenos empiricamente observáveis.
Estabeleciam, assim a noção de verificabilidade, segundo a qual uma proposição
só teria sentido para a comunidade científica quando seus membros pudessem
indicar em que condições ela seria verdadeira ou falsa, ou seja, quando
pudessem apontar as possibilidades de verificar essa verdade ou falsidade
empiricamente. As proposições que não atendessem a esse critério permaneceriam
no campo da Metafísica – área da Filosofia que investiga a essência da
realidade (além do mundo físico) –, sendo rejeitas pela ciência.
Falseabilidade.
Karl Popper
contestou o conceito de verificabilidade, afirmando que, em relação ao método
indutivo, ela era impossível. Afinal, um cientista jamais conseguiria analisar
todos os casos individuais, a fim de constatar a ausência de exceções empíricas
às leis de uma teoria. Para exemplificar, ele utilizou a célebre imagem dos
gansos: mesmo que inúmeros gansos sejam analisados, verificando-se neles a cor
branca, não é possível concluir que “todos os gansos são brancos”, afinal, a
existência de um ganso negro seria suficiente para contestar a universalidade
da proposição científica, existência que não pode ser negada pela grande
amostra de animais analisados.
Popper
dedicou-se ao problema da demarcação da ciência, ou seja, buscou um critério
capaz de distinguir o conhecimento científico dos demais tipos de conhecimento.
Conclui que esse critério seria a falseabilidade. Para ele, uma teoria só
poderia ser considerada científica se estivesse aberta à demonstração de sua
falsidade. Enquanto a falsidade dessa teoria não fosse demonstrada, ela
continuaria válida, mas, se isso ocorresse, ela seria substituída por outra,
também falseável. Sendo assim, Popper não considerava as teorias científicas
verdadeiras e definitivas, mas prováveis e provisórias.
Revolução Científica.
Ainda no século
XX, o físico estadunidense Thomas Kuhn ampliou as reflexões da Filosofia da
ciência. Ele afirmou que a ciência não se transformava pela substituição das
teorias, mas por meio de revoluções. Segundo essa visão, ela passaria por
diferentes fases de desenvolvimento.
1) Paradigma: é
o modelo explicativo da realidade, visão de mundo formada por leis
fundamentais, cuja aceitação seria compartilhada pelos membros de uma
comunidade científica.
2) Ciência
normal: é o período que o paradigma seria considerado na solução de problemas,
orientando os métodos, as investigações e, portanto, as teorias elaboradas.
3) Anomalias: é
a ocorrência de considerável número de problemas sem solução, colocaria em
crise a ciência normal.
4) Revolução
científica: é uma ruptura com o paradigma aceito e afirmaria um novo paradigma
(retornando o ciclo ao primeiro item – paradigma).
Essa visão
rompeu radicalmente com o ideal positivista de progresso, mostrando que não
havia continuidade evolutiva entre os modelos científicos, mas, sim, ruptura e
descontinuidade das teorias científicas. Portanto, a Física de Einstein ou a
Quântica não surgiram com a evolução da Física galilaico-newtoniana, mas pela
ruptura com ela, orientando-se por um novo paradigma. Assim, por mais ajustes
que um modelo de ciência procurasse realizar, ele sempre haveria de enfrentar
problemas insolúveis. Portanto, Kuhn não defendia a verificabilidade, nem
aceitava a falseabilidade. Segundo ele, a nova ciência viria de um novo
paradigma, algo maior do que uma teoria e anterior a ela, um conjunto de
princípios capaz de dirigir o olhar e dar novos rumos às investigações sobre a
realidade. Segundo ele, os cientistas não estariam predispostos a aceitarem a
falsificação de suas teorias, pois, no mundo capitalista contemporâneo, a
ciência não se desvincula de interesses socioeconômicos e até mesmo políticos –
portanto, os cientistas procuram manter o seu prestígio profissional,
justificar o financiamento às suas atividades, vencer a disputa com outras
instituições de pesquisas e assim por diante. Logo, o próprio surgimento de um
novo paradigma resultaria sempre de crises e tensões no meio científico.
Fonte: 3º volume, Sistema
Positivo de Ensino (adaptado).