quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Filosofia da Arte.



Elementos da percepção.
Perceber é ser capaz de identificar o modo como a realidade aparece e ter alguma reação subjetiva a ela, ou seja, uma reação pessoal, individual.
Há muito tempo, a filosofia aborda as percepções em diferentes áreas de reflexão. A Teoria do Conhecimento, por exemplo, investiga se elas são confiáveis ou não, mas quer elas sejam realidades ou aparências, quer sejam, essências ou fenômenos, o fato de serem ou não agradáveis e a possibilidade de serem universais ou particulares também intrigaram os filósofos.
Por isso, além de investigar, por exemplo, se pessoas diferentes veriam uma imagem semelhante ao contemplarem determinado objeto, eles também entraram no universo do gosto para descobrir se tal imagem seria agradável ou desagradável para todas e por quê. Assim, inauguraram uma nova área da Filosofia, para discutir questões ligadas à sensibilidade, ao gosto e à arte.
Diante dessa informação, é possível que você sem lembre do ditado popular, segundo o qual “gosto não se discute”. No entanto, vale destacar que ele não deve ser compreendido literalmente, ou seja, ele não significa que essa discussão não exista na prática e, sim, que, de tão complexa, a maioria prefere abandoná-la. Entretanto, será visto a seguir que, no desenrolar da História, essa não tem sido a atitude dos filósofos.
O termo sensibilidade aplica-se à faculdade de sentir e de perceber sensorialmente a realidade que nos cerca. Decorrem dessa capacidade as sensações físicas, bem como a ela se relacionam as emoções e os sentimentos.
Gostar ou não gostar.
Por que você gosta de coisas que outras detestam ou tem gosto parecidos com os de alguns – principalmente aqueles que têm idade próxima à sua e fazem parte do seu ambiente cultural? As qualidades que pertencem às coisas são objetivas, e as formas de perceber são subjetivas, ou seja, dependem do sujeito que percebe. Por isso, mudam para cada espécie ou indivíduo. Assim sendo, a faculdade de perceber, por exemplo, a cor do céu – que é azul – é universal, enquanto a experiência de apreciar essa cor ou detestá-la é particular. Ademais, as pessoas encontram dificuldades para justificar, por meio de argumentos, as suas opiniões favoráveis ou desfavoráveis sobre determinado prazer ou desprazer para cada um. E existe uma dificuldade ainda maior no que diz respeito a justificar a impressão de que algo é belo ou feio.
Em busca do belo.
 Ao escolher objetos, as pessoas seguem critérios que tornam uns preferíveis a outros, como o valor material e a utilidade, mas também a perfeição, o caráter agradável ou a beleza. Isso mostra que elas não são indiferentes ao belo e que admirar é uma das possíveis formas de contemplar o mundo – assim como investigar ou interpretar.
Além disso, a busca do belo surge até nos aspectos mais corriqueiros da vida humana. Basta observar o cuidado das pessoas com a própria aparência e a das coisas que produzem ou adquirem. Nem sempre elas associam a beleza à utilidade ou a qualquer outro valor, desejando certas coisas simplesmente por serem bonitas. Embelezam o corpo, mesmo com sacrifícios – o que levado a extremos gera a chamada da ditadura da beleza; buscam vestir belas roupas, mesmo que elas não as protejam dos excessos do clima; decoram suas casas, mesmo que isso não as tornem mais práticas ou confortáveis.
É possível definir o belo?
Na Antiguidade grega, Platão definia o belo como a ideia perfeita que daria forma a todas as coisas bonitas. Entendia a experiência do belo como sendo uma manifestação da alma e não da sensibilidade física. Associava a ideia do belo às ideias de bom e verdadeiro, afastando-a, por isso, das representações artísticas. Platão não era a favor da arte, segundo ele, a arte era uma cópia das coisas deste mundo, do Mundo Sensível.  Este mundo, o Mundo Sensível, era uma cópia do mundo perfeito, o Mundo das Ideias. O filósofo dizia, então, que a arte não leva o ser humano à verdade e que a arte não faz o homem alcançar o Mundo das Ideias, local este que se encontra a verdade de todas as coisas. Mas, ele diz que o belo se liga ao bom e ao verdadeiro. Algo belo, para o Platão, se encontrava no Mundo das Idéias, lugar da perfeição, do verdadeiro e do bom. O belo é diferente da arte. Assim sendo, a única arte que Platão aceitaria, então, seria a arte que criou as ideias perfeitas, verdadeiras e boas que se encontra no Mundo das Ideias.
Aristóteles, também da Antiguidade grega, destacava a relação da beleza com a justa medida, a proporção, a simetria e a harmonia, admitindo a presença do belo também na arte e na ficção. Para esse filósofo, algo belo era algo proporcional em não o objeto de arte desproporcional. Os elementos que compõem a obra de arte - por exemplo, o ser humano - devem estar em simetria, em harmonia, ou seja, o nariz proporcional à perna que deve estar proporcional ao braço que deve ser proporcional aos ouvidos que deve ser proporcional às unhas e estas proporcionais aos pés. O belo, então, para Aristóteles estava relacionado também à matemática.
Na Idade Média, a noção do belo atrelou-se a questões teológicas, como a tese de que toda a realidade e a arte se constituem como criação divina. Nesse contexto, valorizava-se a beleza transcendente do mundo espiritual que aguardava o homem, após o término de sua jornada na Terra, para que ele pudesse desfrutas da vida eterna com Deus.
São Tomás de Aquino, na Idade Média, indicava três elementos formadores do belo: a integridade, a proporção e a claridade. Esse filósofo associava a perfeição à integridade que é a plenitude de um objeto de arte, ou seja, não falta a esse objeto de arte; associava a bondade à proporção, ou seja, todos os elementos do objeto devem estar proporcionalmente para que ele seja belo; e, associava a verdade do objeto de arte à claridade, ou seja, a evidência do objeto. Tomás de Aquino, ainda defendia que “o belo como o que agrada a visão”, isto é, a visão é citada em sua relação com o intelecto, com a razão, capaz de identificar a harmonia entre a integridade, a proporção e a claridade no objeto. Para esse filósofo, a experiência criadora do artista estava relacionada, também, à intuição humana da beleza que provém de Deus.
Immanuel Kant, no século XVIII, afirmava que “o belo é o que agrada universalmente, sem depender de um interesse ou de um conceito”. Para Kant a beleza era um dado objetivo, ou seja, ela estava presente nos próprios objetos de arte como um atributo destes, e o gosto era a faculdade humana de julgar esse dado objetivo. Os juízos de gosto – os julgamentos a partir de nossos gostos – não são lógicos, provenientes da razão, mas são estéticos, isto é, sensíveis e subjetivos. Os juízos de gosto não dependem dos conceitos, que estão na mente humana, por isso não são técnicas e práticos. Esses juízos de gosto são apenas contemplativos e isso significa que não há modelo ou norma que poderia ser utilizada para determinar previamente o que é belo e o que não é belo. Se uma pessoa diz “A escultura é bela”, Kant diria que o conceito de escultura permitirá que o interlocutor compreenda de que a pessoa está falando, mas não revelará se a borá de arte é bela ou não, pois essa característica não faz parte do conceito de estátua. Para que o interlocutor possa tecer um juízo estético é necessária a observação pessoal desse interlocutor. Kant, então, diria que o belo está presente na própria obra de arte (no objeto de arte, que é a estátua) como um atributo objetivo presente na estátua, universalmente percebido pelas pessoas.
Kant ainda irá diferenciar o belo do agradável. A principal diferença em relação ao agradável seria o fato de se buscar este último devido a um interesse, o que não ocorreria na busca do belo. Um homem poderá dizer que sua mulher é bela mesmo ela perdendo a saúde ou partes do corpo um acidente de trânsito. Mas, ele poderá deixar de amá-la, após o acidente, se tiver apenas interesse em sua mulher e ela ser agradável a ele.
Fonte: Livro Positivo, adaptado.

O movimento feminista.



As ideias feministas são as ideias que denunciam as desigualdades entre homens e mulheres, têm uma história bastante antiga. Já no final do século XVIII, no contexto da Revolução Francesa, havia pensadoras feministas, como a francesa Olympe de Gouges (1748-1793), autora da Declaração dos direitos da mulher e da cidadã (1791), e a inglesa Mary Wallstonecraft (1759-1797), que escreveu Defesa dos direitos da mulher (1790). Esses escritos eram inspirados pelos ideais de liberdade e de igualdade difundidos pela Revolução Francesa e exigiam a igualdade das mulheres frente a seus companheiros. No entanto, essas reivindicações não eram socialmente reconhecidas, e a escritora Olympe de Gouges foi guilhotinada devido à radicalidade de suas demandas.
No século XIX, as bandeiras feministas estiveram fortemente marcadas pela consolidação do capitalismo nos países europeus e nos Estados Unidos. As mulheres passaram então a se organizar nas fábricas e nos sindicatos para lutar por melhores salários e condições de trabalho. Foi nesse contexto, e graças a uma greve de operárias da indústria têxtil em Nova Iorque, que o dia 8 de março se tornou o Dia Internacional da Mulher. Assim, como outras datas comemorativas, essa serve para manter na memória o histórico de luta pelos direitos das mulheres. O período entre o fim do século XIX e início do XX ficou marcado pelo movimento sufragista. Em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, as sufragettes, como eram chamadas, lutavam pelo direito ao voto, apenas estendido às mulheres década de 1920.
Equivocadamente, imagina-se quen ao houve representantes da primeira onda feminista no Brasil. No entanto, tivemos aqui dois grandes exemplos de feministas: Nisia Floresta (1810-1885) e Bertha Lutz (1894-1976), início do século XX. Nascida no Rio Grande do Norte, Nisia Floresta é considerada a primeira feminista brasileira. Ela publicou Direitos das mulheres e injustiças dos homens (1932), uma tradução livre das ideias de Mary Wallstonecraft. Por sua vez, a paulista Bertha Lutz foi fundadora da Federação Brasileira para o Progresso Feminino e teve papel decisivo no direito de voto às mulheres. Contra várias forças conservadoras da época e após quase dez anos de reivindicação da Federação, o voto feminino foi instituído por decreto, em 1932, por Getúlio Vargas.
A segunda onda do movimento feminista.
A partir da década de 1960, os modelos sociais e culturais do comunismo soviético e do american way of life começaram a ser fortemente questionadas. Muitos fatores ajudaram a colocar em xeque sua validade, como a descolonização dos países africanos, a massiva escolarização das classes médias nos Estados Unidos e, na Europa, a revelação da violência da URSS contra alguns de seus países. Foi nessa atmosfera de reivindicações culturais e políticas intensas que surgiu a segunda onda do feminismo. Ao lado dessas várias formas de contestação social, as mulheres, organizadas em grupos feministas, também contestavam os modelos de sociedade herdados da Guerra Fria.
No contexto francês, o ano de 1970 é considerado o marco fundador do renascimento do feminismo. Bastante inspirado pelo Maio de 68, as ações pela liberação das mulheres reuniu vários grupos informais que criticavam as hierarquias e os conservadorismos da sociedade da época. A principal influência teórica do movimento veio da obra O segundo sexo (1949), de Simone de Beauvoir (1908-1986). As ideias dessa pensadora são ainda fundamentais para os ideais feministas não só na França, mas em todo o mundo. Sua importância se deve ao fato de ela ter expressado, de forma clara e contundente, a ideia de que a diferença entre os sexos não tem suas raízes na conformação corporal. Negando o determinismo biológico, Simone de Beauvoir mostrou como as mulheres não nascem passivas; é a educação, como prática social, que considera a passividade como algo supostamente feminino.
Já nos Estados Unidos, a segunda onda do movimento feminista estava, claramente dividida em duas tendências dominantes. A primeira delas foi marcada pela reflexão de Betty Friedan (1921-2006) em sua obra Mística feminina (1963). Nesse livro, Friedan denunciava o papel social dado à mulher na ideologia do sonho americano (american dream). Após ter realizado centenas de entrevistas com mulheres, médicos, psicólogos e editores de revistas femininas, ela percebeu que as donas de casa estadunidenses viviam um “mal sem nome”. Nos depoimentos, essas mulheres se mostravam deprimidas ou mesmo “vazias” em razão da falta de sentido das suas vidas domésticas.
A autora mostrou também a tentativa de “especialistas”, como médicos e psicólogos, no sentido de “curar” o desconforto vivido por elas. No entanto, para Friedan esses “especialistas” faziam parte da elaboração da “mística feminina”, ou seja, eles produziam e difundiam estereótipos que limitavam o papel das mulheres ao lar e ao cuidado dos filhos. Uma parte importante do movimento feminista estadunidense nasceu sob influência direta dessa pensadora. Ela, em 1966, liderou a fundação da Organização Nacional das Mulheres. Essa associação luta pelos direitos das mulheres em diversas áreas.
O feminismo radical foi outra forte corrente do movimento feminista nos Estados Unidos. Diferentemente das críticas inspiradas por Friedan, a reivindicação das feministas radicais tinha a sexualidade como sua principal questão. Com forte apelo de transformação sexual, essa bandeira foi defendida pelo movimento de liberação das mulheres e foi sintetizada na obra de Kate Millett (1934-) intitulada A política sexual (1968). Esse livro critica o patriarcado, um poder que, segundo a autora, se expressa tanto dentro como fora de casa, pois outras instituições sociais também compartilham o papel de reproduzir o domínio sobre as mulheres.
Por meio dos exemplos estadunidenses e francês, notamos como as ideias e reivindicações da segunda onda feminista foram bastante diversificadas. Essa etapa do feminismo se distinguiu fortemente da primeira. No começo do século XX, a luta das mulheres se voltava apenas para o direito ao voto e não questionava o papel reservado à mulher no interior da família.
Apesar de sua diversidade, as correntes da segunda onda utilizavam um mesmo lema capaz de captar suas diferentes demandas: “o pessoal é político”. Por meio dessa expressão e inspiradas por Simone de Beauvoir, o discurso feminista tratava de dizer que as questões antes consideradas “íntimas” eram, na verdade, permeadas por relações de poder. A noção de patriarcado e a denúncia da “mística feminina” serviram para mostrar como se exercem forma de controle sobre a mulher na esfera privada. Em suam, o lema feminista “o pessoal é político” funcionou como instrumento eficiente de politização, pois, ao enfatizar as relações de poder, tornou claro que até mesmo os laços íntimos são desiguais e hierárquicos.
Gradualmente, durante as décadas de 1970 e 1980, as reivindicações do feminismo foram reconhecidas por organismos nacionais e internacionais como um assunto de política pública. A partir dessas décadas, também as Ciências Humanas passaram a incorporar essas questões, indagando como se produzem e se justificam as desigualdades entre homens e mulheres. Assim, foi por meio do diálogo e do envolvimento com as feministas da segunda onda que as teorias acadêmicas forjaram a noção de gênero.
Feminismo no Brasil: da Ditadura Militar à redemocratização.
No Brasil, as décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela repressão política e pela perda das liberdades civis. Foi no contexto dos governos da Ditadura Militar (1964-1985) que o movimento feminista brasileiro renasceu sob a forma de organizações de mulheres.
As mulheres feministas se reuniram em pequenos grupos de reflexão espalhados nas maiores cidades brasileiras. Elas eram universitárias ou professoras universitárias de classe média e tinham uma forte ligação com os grupos contrários à Ditadura. Com o agravamento da repressão, com o Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968, muitas delas foram exiladas, passando a viver em países como a França e os Estados Unidos. Especialmente nesses dois países, o discurso feminista já tinha alguma relevância pública e o contato com o feminismo já tinha alguma relevância pública e o contato com o feminismo no exterior foi, posteriormente, decisivo para a maior parte das exiladas. Até meados da década de 1970, os grupos feministas tinham no Brasil uma composição muito informal e estavam orientados para reuniões de conscientização e discussão de temas íntimos. Esse caráter informal e reservado se devia não apenas ao controle do regime militar sobre quaisquer contestações, mas também aos próprios grupos de esquerda, que repudiavam e atacavam o feminismo.
A partir de 1975, uma série de fatores influenciou o ressurgimento público do movimento feminista no Brasil.
Por um lado, com o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), o regime ditatorial dava os primeiros sinais de que o país poderia voltar a ter uma vida política menos autoritária. Conhecido como “distensão”, esse período assinalava para a saída gradual dos militares do poder, revogando paulatinamente as restrições impostas à atividade política desde 1968. Foi nesse contexto que, junto a outras organizações, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Organização dos Advogados do Brasil (OAB), os grupos feministas lutaram pela anistia, conquistada em 1979 e que permitiu a volta dos exilados políticos.
Por outro lado, o panorama internacional dos anos 1970 também favorecia a retomada e a legitimação das articulações feministas. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 1975 como o Ano Internacional da Mulher, seguida da Década da Mulher, até 1985.
Imagine, numa época como aquela, a radicalidade que posturas como liberdade política, anistia, direito à contracepção, consciência dos direitos de gêneros, etc. representavam.
Os anos 1980 marcaram uma nova e importante etapa para o feminismo brasileiro devido às transformações políticas da época: tanto a anistia quanto a abertura política realocaram os partidos como os atores legítimos para competir por votos e adesão popular. Assim, a volta da realização de eleições estaduais e municipais, em 1982, abriu espaço para a participação política de várias militantes feministas.
Por outro lado, com as transições democráticas, as instituições políticas passaram a ser um dos principais canais de reivindicações feministas, em especial, para as denúncias de violência contra a mulher. É em resposta a esse tipo de demanda que foram, por todo o país, os chamados conselhos da condição da mulher e também a delegacia da mulher. Nessa mesma década, durante os meses que antecederam a promulgação da Constituição de 1988, as mulheres se mobilizaram e participaram ativamente da elaboração da nossa Carta Constitucional, que entre vários avanços, instituiu a igualdade entre homens e mulheres.
De 1990 até os dias atuais: difusão, institucionalização e diversificação do feminismo e conquista de direitos.
Há algum tempo era comum ouvir a expressão “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Ela servia, e continua a servir, mesmo que com menor intensidade, como justificativa para que as desigualdades de gênero não sejam questionadas. O fato de atualmente a violência física e simbólica contra as mulheres ser vista pela sociedade como algo grave a ser combatido é resultado de ideias esculpidas por organizações feministas. Elas atualmente permeiam a sociedade brasileira e se difundiram pelas instituições sociais.
O movimento feminista brasileiro tornou-se, nos anos 1990, mais institucionalizado, o que significa que ele passou por dois tipos de transformação. Por um lado deixou de ser informal para se estrutura em organizações mais hierarquizadas e profissionais, em especial sob a forma de organizações não governamentais (ONGs). Por outro, entrou diretamente em espaços político-institucionais do Estado Brasil, ou seja, boa parte das militantes feministas das décadas anteriores passou a fazer parte de órgãos estatais, como as secretarias estaduais e municipais. Assim, a difusão e a institucionalização do feminismo estão bastante ligadas, pois muitas feministas passaram a atuar profissionalmente no interior das instituições e dos órgãos públicos.
Do ponto de vista da institucionalização, uma das conquistas mais significativas do movimento feminista brasileiro foi a criação da Secretaria Especial de Política para as Mulheres, no ano de 2003. Ela tem nível ministerial e atua com outros ministérios na elaboração de políticas para combater as desigualdades sociais de vários tipos que atingem as mulheres. No que diz respeito aos direitos, a partir da Constituição de 1988 as mulheres lograram igualdade frente aos homens, tendo consolidados seus direitos civis e políticos de forma plena, ao menos no papel. No âmbito da política forma criados instrumentos legais, as chamadas ações afirmativas, para incentivar a participação feminina nos partidos e nas eleições. No âmbito do mercado de trabalho, vários mecanismos protegem as mulheres da discriminação. E no âmbito da vida conjugal, desde a Constituição de 1988 a mulher não é mais considerada subordinada ao homem ou dependente dele. Uma recente e importante conquista das organizações feministas foi a chamada Lei Maria da Pena, de 2006, pune com maior rigor a violência doméstica.
Fonte: Livro Postiivo.

domingo, 6 de outubro de 2013

Filosofia da Ciência.



Dedução, indução e abdução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não conhecido, isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a conhecimentos já adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocínio, o intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e necessários entre as idéias ou entre os fatos.
Dedução.
A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por uma demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela. Em outras palavras, na dedução parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais. Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual. O ponto de partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira.
Por exemplo, se definirmos que todo ser humano é mortal e racional e João, Marcos e Maria são humanos, então, eles serão mortais e racionais. Outro exemplo: Nenhum deus tem qualidades humanas, então o Deus cristão não tem qualidade humana. Parte-se uma teoria geral para chegar a uma conclusão em relação a seres particulares.
Indução.
A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução. Com a indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares. A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso.
Por exemplo, os livros X, Y e Z têm capas vermelhas e foram obras literárias do ENEM. Eu tenho um livro que tem capa vermelha, então, esse livro será obra literária do ENEM.
Abdução.
A abdução é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo passo a passo para chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais, de indícios, de signos. O exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais, o modo como os detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o caso que investigam.
São ensinados os conteúdos X, Y e Z no 3º ano do Ensino Médio. Pedro está estudando os conteúdos X, Y e Z, então, Pedro é aluno do 3º ano do Ensino Médio.

A Epistemologia (estudo do conhecimento) moderna deu origem à filosofia da ciência contemporânea. No século XX, filósofos e cientistas de diferentes áreas voltaram a atenção para esse campo de reflexão, investigando diversos temas, entre os quais:
- o significado de ciência e de conceitos a ela associados;
- a validade dos métodos (caminhos) adotados pelas diferentes ciências em suas pesquisas;
- o alcance do conhecimento científico;
- as relações entre a ciência, a natureza e a vida humana (o que também envolve questões políticas, ecológicas e éticas).
Do cientificismo à Revolução Científica.
Foi visto que, no decorrer do tempo, a palavra “ciência” nomeou diferentes formas de conhecimento e, a partir do século XVII, os métodos matemáticos e experimental, bem como a associação do conhecimento à tecnologia, forjaram a ciência moderna. Esse novo modelo, que gerou o “mito do cientificismo”, adotava a investigação metódica de problemas, por meio de observações, hipóteses, cálculos e experimentos, em busca de leis universais ocultas sob os fenômenos particulares. Essas leis organizavam-se em teorias, das quais se esperava não apenas a explicação dos fenômenos atuais, como também a explicação e, até mesmo, a previsão de novos fenômenos.
Por outro lado, nos séculos XIX e XX o reconhecimento de algumas teorias foi abalado por novas descobertas, que elas não puderam explicar. Para que você entenda melhor essa crise e seus desdobramentos, serão apresentadas, a seguir, breves informações sobre as relações da ciência com quatro conceitos elaborados, respectivamente, por Auguste Comte (séc. XVIII), representantes do Círculo de Viena , Karl Popper, e Thomas Kuhn (século XX).
Progresso científico.
Comte e os defensores do positivismo (escola filosófica que tem a ciência como a única e confiável fonte de verdade e conhecimento) acreditavam no progresso do conhecimento, desde origens primitivas até a etapa ideal representada pela ciência moderna. Segundo essa visão, o conhecimento seria acumulativo e, portanto, as teorias científicas deveriam ter validade universal, mostrando-se aptas a explicarem novos eventos. Porém, isso não se concretizou frente a descobertas realizadas nos séculos XIX e XX. Na Física, por exemplo, as teorias da Relatividade (de Einstein) e Quântica negaram a universalidade de certas teorias de Newton. Esse tipo de impasse também ocorreu em outros campos da ciência, o que revelou a inconsistência da ideia positivista de progresso científico.
Verificabilidade.
Nos anos de 1920, alguns filósofos e cientistas austríacos, de origem judaica, formaram um grupo de pesquisa, reunindo-se na cidade de Viena, com o objetivo de encontrar fundamentos sólidos para o conhecimento científico. Mais tarde, alguns deles mudaram-se para os Estados Unidos. Esse grupo ficou conhecido como Círculo de Viena, e o seu movimento, como Positivismo Lógico ou Neopositivismo. Eles defendiam a importância de utilizar procedimentos da Matemática e da Lógica nos métodos científicos e tomavam a experiência como critério de verdade em relação a uma teoria. Seu objetivo era reavaliar as proposições (afirmações ou negações logicamente estruturadas) consideradas científicas. Desejavam manter somente aquelas que se referiam estritamente aos fenômenos empiricamente observáveis. Estabeleciam, assim a noção de verificabilidade, segundo a qual uma proposição só teria sentido para a comunidade científica quando seus membros pudessem indicar em que condições ela seria verdadeira ou falsa, ou seja, quando pudessem apontar as possibilidades de verificar essa verdade ou falsidade empiricamente. As proposições que não atendessem a esse critério permaneceriam no campo da Metafísica – área da Filosofia que investiga a essência da realidade (além do mundo físico) –, sendo rejeitas pela ciência.
Falseabilidade.
Karl Popper contestou o conceito de verificabilidade, afirmando que, em relação ao método indutivo, ela era impossível. Afinal, um cientista jamais conseguiria analisar todos os casos individuais, a fim de constatar a ausência de exceções empíricas às leis de uma teoria. Para exemplificar, ele utilizou a célebre imagem dos gansos: mesmo que inúmeros gansos sejam analisados, verificando-se neles a cor branca, não é possível concluir que “todos os gansos são brancos”, afinal, a existência de um ganso negro seria suficiente para contestar a universalidade da proposição científica, existência que não pode ser negada pela grande amostra de animais analisados.
Popper dedicou-se ao problema da demarcação da ciência, ou seja, buscou um critério capaz de distinguir o conhecimento científico dos demais tipos de conhecimento. Conclui que esse critério seria a falseabilidade. Para ele, uma teoria só poderia ser considerada científica se estivesse aberta à demonstração de sua falsidade. Enquanto a falsidade dessa teoria não fosse demonstrada, ela continuaria válida, mas, se isso ocorresse, ela seria substituída por outra, também falseável. Sendo assim, Popper não considerava as teorias científicas verdadeiras e definitivas, mas prováveis e provisórias.
Revolução Científica.
Ainda no século XX, o físico estadunidense Thomas Kuhn ampliou as reflexões da Filosofia da ciência. Ele afirmou que a ciência não se transformava pela substituição das teorias, mas por meio de revoluções. Segundo essa visão, ela passaria por diferentes fases de desenvolvimento.
1) Paradigma: é o modelo explicativo da realidade, visão de mundo formada por leis fundamentais, cuja aceitação seria compartilhada pelos membros de uma comunidade científica.
2) Ciência normal: é o período que o paradigma seria considerado na solução de problemas, orientando os métodos, as investigações e, portanto, as teorias elaboradas.
3) Anomalias: é a ocorrência de considerável número de problemas sem solução, colocaria em crise a ciência normal.
4) Revolução científica: é uma ruptura com o paradigma aceito e afirmaria um novo paradigma (retornando o ciclo ao primeiro item – paradigma).
Essa visão rompeu radicalmente com o ideal positivista de progresso, mostrando que não havia continuidade evolutiva entre os modelos científicos, mas, sim, ruptura e descontinuidade das teorias científicas. Portanto, a Física de Einstein ou a Quântica não surgiram com a evolução da Física galilaico-newtoniana, mas pela ruptura com ela, orientando-se por um novo paradigma. Assim, por mais ajustes que um modelo de ciência procurasse realizar, ele sempre haveria de enfrentar problemas insolúveis. Portanto, Kuhn não defendia a verificabilidade, nem aceitava a falseabilidade. Segundo ele, a nova ciência viria de um novo paradigma, algo maior do que uma teoria e anterior a ela, um conjunto de princípios capaz de dirigir o olhar e dar novos rumos às investigações sobre a realidade. Segundo ele, os cientistas não estariam predispostos a aceitarem a falsificação de suas teorias, pois, no mundo capitalista contemporâneo, a ciência não se desvincula de interesses socioeconômicos e até mesmo políticos – portanto, os cientistas procuram manter o seu prestígio profissional, justificar o financiamento às suas atividades, vencer a disputa com outras instituições de pesquisas e assim por diante. Logo, o próprio surgimento de um novo paradigma resultaria sempre de crises e tensões no meio científico.
Fonte: 3º volume, Sistema Positivo de Ensino (adaptado).